Documentos exclusivos obtidos pelo Site G1, protocolados
entre maio e julho deste ano nas promotorias de Justiça de diferentes
municípios, apontam para a existência de um esquema de fraude em licitações para
exploração de serviços de transporte coletivo em pelo menos 19 cidades
de sete estados e do Distrito Federal, entre as quais Pontal do Paraná.
Conforme troca de e-mails aos quais o G1 teve acesso e
investigações de promotores, a Logitrans, empresa da qual o engenheiro
Garrone Reck foi sócio, era contratada pelas prefeituras para fazer
estudos de logística e projeto básico de mobilidade, enquanto o filho
dele, Sacha Reck, advogava para empresas interessadas.
De acordo com as investigações, com apoio de funcionário da prefeitura,
Sacha Reck tinha acesso antecipado ao edital e, inclusive, ajudava na
elaboração do documento.
Os documentos permitem deduzir que o esquema existe, pelo menos, desde
2007 e favoreceu, principalmente, empresas de duas famílias –
Constantino e Gulin.
O suposto esquema em Pontal do Paraná
>> Documentos indicam que Sacha Reck, advogado da empresa
Oceânica Sul, de Thell Adur, elabora ele próprio, minuta de edital de
licitação para transporte escolar na cidade.
>> Na troca de e-mails, Sacha pergunta se os empresários querem
fazer alguma modificação no edital e ainda pergunta quem é o “contato”
na Prefeitura que será procurado, para viabilizar que o documento seja
publicado conforme os interesses da Oceânica.
O que indicam os e-mails
Em 19 de dezembro de 2008, o advogado Sacha Reck envia a seu cliente,
Thell Adur, da empresa Oceânica Sul, minuta do edital de licitação de
transporte escolar de Pontal do Paraná.
No e-mail, Sacha diz que é preciso verificar quem será o “contato” na
prefeitura, para que eles pudessem fazer mudanças no edital e chega a
sugerir uma data para a publicação.
“Prezados Jorge e Thell, Segue, em anexo, minuta proposta para resolver
o assunto do litoral. Favor analisar as questões em vermelho, para ver
se vocês atendem. Precisamos ver quem será o contato na Prefeitura
Municipal, para preencher algumas informações faltantes e assinar os
pareceres e demais atos prévios à abertura do pleito. Segundo a Lei, o
prazo mínimo entre a publicação e a entrega das propostas é de 08 dias
úteis. Temos que verificar os dias úteis da Prefeitura de Pontal para
programarmos a data de abertura. Penso que para nós o ideal era publicar
o aviso do edital na terça feira. Ainda não anexei o projeto básico.
Estou providenciando isso”, diz Sacha Reck.
Em 23 de dezembro de 2008, Sacha Reck encaminha nova versão da minuta
de edital e informa aos donos da Oceânica que o documento precisa ser
assinado pelo prefeito Rudisney Gimenes.
“Prezados, Em anexo, segue o documento com aquelas modificações que eu
entendo possíveis, dentre as reivindicações de vocês. Segue, também o
ato de justificativa, que deverá ser assinado pelo Gimenes e juntado no
processo administrativo da licitação. Preciso que vocês consolidem e
dêem OK nas questões que estão em vermelho, sobretudo relativas ao
seguro. Vocês precisam arrumar umas duas empresas para fazerem orçamento
de preço, para ser anexado ao processo. A Prefeitura precisa comprovar a
nomeação do pregoeiro que conduzirá o processo. Com que vamos falar,
dentro da Prefeitura???”, indaga Sacha Reck.
Ministério Público
A promotora do Ministério Público do Paraná (MP-PR) Leandra Flores
afirmou que a investigação aponta que a organização criminosa atuou em
Guarapuava, Foz do Iguaçu e Maringá.
Entretanto, está sendo investigado em quais outras cidades essa suposta
organização criminosa agiu. Por ora, há menções de que tenha atuado por
outros quatro municípios paranaenses, entre os quais Pontal do Paraná.
Versão dos envolvidos
Por meio de nota, a Oceânica Sul informou que a empresa fazia parte do
Conselho Municipal de Transporte e por obrigação deveria se manifestar a
respeito das recomendações operacionais para garantir a segurança e
estrutura necessária ao atendimento do transporte público.
“Das recomendações do Conselho Municipal de Transporte encaminhadas à
prefeitura, cabia tão somente ao município analisar as questões
apresentadas para decisões, visando sempre a segurança e bom atendimento
ao transporte público. A empresa nunca interferiu em processos
licitatórios internos da prefeitura”, diz um trecho da nota.
Segundo a empresa, das recomendações apresentadas como membro do
Conselho Municipal de Transporte à época, a única acatada pela
prefeitura foi a da regulamentação obrigatória dos veículos de acordo
com a legislação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A Oceânica Sul ainda disse que a licitação, à época, foi disputada
apenas com base no melhor preço apresentado: “sem critérios adicionais
que supostamente pudessem favorecer terceiros ou direcionar resultados”,
conforme trecho da nota.
A Prefeitura de Pontal do Paraná não informou os valores da negociação
ou mais detalhes do suposto esquema. Segundo a prefeitura, é necessário
mais tempo para se posicionar sobre o assunto.
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